Seja Bem-Vindo

A CADA DIA UM NOVO CAPÍTULO!

Esta é uma obra fechada, escrita no ano de 2004, aos meus 17 anos, e vai até o capítulo 95. Eles serão disponibilizados aos poucos.
Aos leitores que já estavam no capítulo 51, peço paciência. Em breve o romance estará totalmente disponível.

Capítulo 03 - Tragédia

- Vai ver o vestido não deu no corpo da noiva. - comentava uma beata.
- Acho que o Valério deve ter passado mal, aquele menino é muito mole. - cochichava outra senhora.
Os comentários e as deduções surgiam como gotas na chuva, todos buscavam uma justificativa para o atraso do casamento. O padre estava impaciente e já havia ameaçado o fim da tormentosa espera:
- Senhor Conde, minhas pernas já não aguentam tanta demora.
- Pois tire a santa do altar e descanse a sua bunda cansada, mas o casamento só Deus pode quebrar! - bradou o Conde.
O Conde Peixoto, um velho muito rabugento, trazia consigo algo que lhe dera muito respeito na cidade: o dinheiro. Ele era dono de quase todas as terras das redondezas e ainda do maior armazém da região. O título de nobreza herdara de seus antepassados. O padre lhe devia uma eterna gratidão, pois a paróquia dependia da sua ajuda para o término da reforma que vinha passando. Mas nesse dia, o padre tentou replicar a tirania do todo-poderoso.
- Conde Peixoto, se o bispo sabe que uma cerimônia atrasou tanto, ele é capaz de...
- Ele é capaz de nada! Se o bispo souber que o casamento de um qualquer da vila atrasou é uma história, já se ele souber que o casamento do filho do Conde Peixoto atrasou é outra história... Aquiete-se, homem! Daqui a pouco os noivos chegam, o atraso é normal.
- Atraso da noiva é, mas do noivo. - ironizou o padre.
- Se o senhor padre ousar fazer mais uma graça, por menor que seja, corto o dinheiro que tenho dado para reformar essa paróquia! Agora espere, padre, e deixe de me amolar o juízo!
Minutos depois, Bertolino, um garoto raquítico e anêmico que fazia mandados, chegou com notícias. Ele chamou o Conde para fora da Igreja.
- E então, moleque? Encontraste o Valério?
- Encontrei sim, senhor Conde, disse ele com uma voz lânguida. Vi ele entrando na chácara.
- Na chácara? Mas o que faz ele por lá, Bertolino?
- Não sei, mas ele estava muito esquisito.
- Vamos de volta à chácara! - puxou Bertolino pelo braço - O Valério deve ter feito alguma besteira! Será que ele desistiu do casamento? Ora!
Os dois rumaram para a chácara do Conde deixando o padre ainda mais ansioso e as beatas ainda mais curiosas. O Conde Peixoto conhecia a cria que tinha colocado no mundo: um garoto mimado, que não sabia separar a razão da emoção.
- Diabos! - gritou o Conde - Ajude-me por essas ruas, Bertolino!
Para tornar tudo ainda mais desconfortável o Conde havia esquecido a sua bengala na igreja. Para um senhor, vencido pelo tempo, andar pelas ruas sem uma bengala era tropeço na certa. Mas logo o Conde achou uma solução. Bertolino tornou-se a sua bengala humana. Apoiando o braço direito no ombro do garoto ele continuou a sua caminhada que parecia interminável.
A igreja fica na praça principal da cidade, onde também fica a prefeitura. E a chácara do Conde fica na rua mais imponente, a rua do Imperador, pois dizem que por ali já morou um descendente direto de Dom Pedro I, mas esqueçamos esta história.
Em volta da chácara há um enorme muro, no centro estava uma casa de... Bem, mas descrevê-la é inútil, até porque ninguém está interessado em saber como de fato era a chácara, o pior é que nem eu sei.
Chegando na chácara, o Conde encontrou um grande vazio. Não havia empregados, pois todos estavam no casamento.
- Valério... - chamou o Conde - Valério, meu filho, você está aqui?
- Acho que nos desencontramos, senhor Conde. Uma hora dessas, ele já pode estar na igreja.
- Não, Bertolino. Ele está aqui, eu sei que ele está aqui. Acho que deve estar no quarto. Vamos até lá!
O Conde Peixoto subiu as escadas procurando apoio no corrimão e no moleque raquítico. Entre as muitas portas do andar superior da casa, ele parou em frente a uma e pensou: “O que deve ter acontecido com o Valério? Deus ajude que ele esteja bem”, respirou fundo como se esperasse alguma desgraça e abriu a porta. O silêncio pairou entre as enormes paredes. Os olhos do Conde vidraram-se, as palavras de Bertolino sumiram da sua bocarra. Um vento balançava as folhas da mangueira, parecia anunciar a tragédia: Catu já não era a mesma. Valério havia se suicidado.


2 comentários:

  1. Poxa, coitado do Valério, já não bastasse o sofrimento. Espero pelo próximo cap. Abraços!


    www.laerte-lopes.blogspot.com

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  2. Coitado mesmo... Fiquei com pena dele também... Num momento de fraqueza ele fez a escolha errada... Ou certa, talvez.

    E tô esperando novo cap. no MEDO.

    http://laerte-lopes.blogspot.com/

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