Capítulo 09 - Coisas de Família

Dona Lurdes - com o seu avental florido que ganhara no último Natal - estava à beira do fogão mexendo o cozido que serviria logo mais no almoço. Numa cadeira, ao canto da pia, está sentado um menino, senão um cadáver à espera do sepulcro, é o Felipe, seu filho mais novo. O garoto está debilitado, amarelo, com os olhos cozidos, sem uma gota de sangue, magrelo que dar para contar as costelas cobertas por uma pelanca fubenta e sem vida.

Ali mesmo chegava Rosa, Manuel e Zizi.

- Chegamos, mainha. - disse Rosa sentando-se no sofá e tirando as sandálias.

- Agora a pouco a Silvana teve aqui procurando por você.

- Painho disse que não é pra você se misturar com a Silvana, ela é mal-falada na cidade.

- Ih, agora você também quer se meter na minha vida, é seu menino?

- O Manuel tem razão, Rosa... dizia Zizi indo até a cozinha... A Silvana não é mulher direita e se o teu pai descobre que a senhorita ainda anda por lá não sei do que ele é capaz.

- Besteira. Eu só irei conversar um pouco, não é nada demais.

- Pois vá! - disse dona Lurdes com a colher de pau estendida para o ar - Depois não diga que nós não avisamos! É bem capaz de que você fique mal-falada.

- Como se já não estivesse...

- O que disse, Manuel?

- Nada não, mãe, coisa sem importância.

- Esse menino está muito atrevido! Deixe-me ir logo antes que eu me aborreça com ele!

- Não vai comer antes?

- Não, mainha, nós comemos um lanche no caminho pra casa. - logo em seguida a jovem atravessou a porta para ir ao encontro da amiga.

- Vixe Maria!

- O que foi Zizi?

- O Felipe está queimando de febre, dona Lurdes!

- Diacho! - exclamou dona Lurdes levando a mão à testa do filho - Acho que ele vai ter que ir pro doutor.

- Leva ele pro posto. É isso mesmo que eu vou fazer, filho. Amanhã mesmo eu levo lá assim que o posto abrir.

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